Jogadores derrubam treinador?

SEXTA-FEIRA, 1 DE JULHO DE 2011

Alguns comentaristas esportivos acreditam que os jogadores derrubam o treinador. Um deles citou como exemplo a derrubada de Cuca no Cruzeiro. Questiona a queda repentina de produção do time estrelado, “com elenco tal qualificado” (afirma o comentarista) e de repente as vitórias reaparecem com menos de uma semana de trabalho de Joel Santana,
Eu creio, também, no boicote, mas, na maioria das oportunidades a simples mudança de treinador recupera o clima psicológico entre os atletas. Lembro-me de um jogo de futebol amador, uma dessas peladas do futebol, que valia título, em que o time tomou dois gols no minuto final do primeiro tempo. A turma saiu arrasada do campo, e parecia que mais arrasada ainda retornaria para o segundo tempo. O treinador não sabia o que dizer (ele me confirmou isso posteriormente). Começou com uma preleção derrotista, dizendo que os dois gols de frente conseguidos pelo adversário praticamente definiu o jogo. Que ele entendia perfeitamente ser muito difícil uma recuperação. E quando todo mundo estava entregue ao pessimismo ele fez a seguinte pergunta: “Agora, se o jogo estivesse de 2 x 0 para nós, vocês acham que seria mais fácil?” E começou a gritar e a perguntar a cada um dos jogadores exigindo respostas de viva vós. “O que você acha fulano, me responde? Seria mais fácil para nós? Eles iriam se entregar? ou viriam pra cima de nós com toda a garra? O que eles iriam fazer?”. E seus gritos mexeram com a alma do time. Todos ficaram convencidos de que se o placar de 2 x 0 fosse favorável a eles seria muito mais difícil segurar aquela vantagem do que se recuperar da desvantagem, ou seja, em qualquer situação o jogo seria difícil. E esse time retornou para o segundo tempo, conseguiu fazer um gol, quando estava para empatar, tomou o terceiro gol e, com o mesmo espírito de que não tinham nada a temer, pois nada mais tinham a perder, fizeram o segundo gol e no minuto final empataram o jogo, levando a decisão para a prorrogação quando venceram por 3 x 1.
Vejam bem, foi um discurso milagreiro que levantou a auto-estima da turma. É isso que faz o treinador quando assume um time no meio de uma competição como fez Joel Santana no Cruzeiro. Agora, como se perde a auto-estima da noite para o dia? Quem derrubou o Cuca no Cruzeiro foi o Once Caldas, que perdeu em casa por 1 x 0 e precisava vencer o até então imbatível Cruzeiro, dentro de Minas por 2 x 0. E venceu. Sabem por que? Não tinham mais nada a perder, portanto, nada tinham a TEMER!!!
A falta de medo do Once Caldas (não vamos nem falar em coragem!) e o comodismo do Cruzeiro, que encarou o jogo como um treino para enfrentar o Santos na fase seguinte levou o jogo até o segundo tempo no 0 x 0. O Once Caldas sabia que precisava só de um gol para levar a decisão aos pênaltis, e quando saiu esse gol o que era coragem no Cruzeiro se transformou em medo. E a coragem do Once Caldas se duplicou. E o segundo gol saiu. E o Cuca também saiu...
Trágicos resultados como esse são, sim, senhor, culpa do treinador. Para não deixar nenhuma dúvida sobre isso uma semana depois aconteceu pior com o São Paulo, dentro de São Paulo. Depois de fazer o mesmo que o Cruzeiro fez com seu adversário, batê-lo no seu próprio campo, o São Paulo entrou em campo na mesma situação do Cruzeiro. Ora, ganhamos lá dentro! A vaga está garantida. E o São Paulo no segundo tempo fez 1 x 0, ampliando mais ainda sua vantagem. E o Avaí, cujo risco na partida era só o de ganhar, pois, perdida já estava, partiu pra cima, empatou o jogo e meteu 3 x 1. Isso é complô contra treinador? Não! É treinador que não prepara seu time psicologicamente.