O MEDO

Na trágica noite em que quatro times brasileiros deixaram a Libertadores, um deles o Cruzeiro que podia empatar dentro de casa, ou perder por 1 x 0 para decidir a vaga nos pênaltis e acabou derrotado pelo pior time da primeira fase por 2 x 0 abordamos a questão do medo. O resultado foi tráfico para o time que havia vencido a primeira partida por 2 x 1 no campo do adversário, portanto, nem os mais pessimistas poderiam imaginar sua desclassificação assim como nem os mais otimistas colombianos imaginavam a superação do tal Once Caldas. Na semana seguinte tivemos pela Copa do Brasil algo um pouco pior. O São Paulo foi a Santa Catarina e venceu o Avaí por 1 x 0, passando a jogar em casa por um empate. O time, no segundo tempo, ainda fez 1 x 0 ampliando sua vantagem, mas, veio o inacreditável: o Avaí, mesmo com o pouco tempo lhe faltava fez 3 x 1 e desclassificou o time paulista.
No artigo anterior eu ressaltei o excesso de confiança,o que não significa coragem, ressaltando que o medo e a coragem precisam existir no ser humano na dosagem certa. Ora, por que o Cruzeiro iria temer um adversário que havia derrotado lá nos seus domínios? Por que o São Paulo ia ter medo do Avaí jogando em casa, principalmente depois de ampliar sua vantagem para 2 gols? Então o que levou os dois clubes à derrota foi realmente o excesso de confiança. E quando a coisa começa a escurecer vem o medo, aumentando automaticamente o a coragem do adversário.
Mas esta questão já é abordada no outro artigo. Neste quero apenas frisar que todo mundo tem medo e que não é pecado ter medo. Como disse anteriormente, um pouco de medo, que podemos chamar até de prevenção, sempre faz bem.
Só não tem medo quem nada tem a perder. Quem tem alguma coisa a perder, teme. O que precisamos é administrar o medo.
Podemos citar outro exemplo do futebol. O Cruzeiro fez uma decisão contra o Atlético Mineiro com a vantagem de jogar por dois empates. O time azul tinha algo a perder, a vantagem, enquanto o Galo não tinha nada mais a perder. E, sem medo, venceu o primeiro jogo. Na segunda partida a situação se inverteu: o Galo passou a ter a vantagem do empate, portanto, tinha algo a perder enquanto o Cruzeiro nada mais tinha a perder. Seu negócio era vencer de qualquer jeito. E venceu!
Portanto, não existe este ou aquele que em certo momento da vida sente medo de alguma coisa. A diferença é que o medroso se entrega ao medo; e o corajoso domina seu medo, reage e coloca o medo prá correr.
Um provérbio que se aplica muito bem à vida de qualquer um, em qualquer que seja a situação é este: “Se o problema tem solução, não precisa ter medo; se não tem solução, não adianta ter medo!!!”


O medo e a coragem, ou o otimismo e o pessimismo, já colocaram muita gente em situações dramáticas e até cômicas, gerando as mais variadas anedotas. Meu saudoso pai gostava muito de contar uma sobre três amigos, um corajoso, outro medroso e um equilibrado que saíram para uma caçada. No meio da noite, em meio a muito morre exatamente o equilibrado.
O corajoso controlou a situação deitando-se ao lado do defunto para que o medroso deitasse do lado oposto. Assim esperariam pelo clarear do dia e tomar as providências cabíveis. Só que o medroso dormiu e o corajoso trocou de lado com o defunto. E quando percebeu que o medroso havia acordado começou a se mexer, ora um braço, ora uma perna. E o medroso entrou em pânico, sacudindo o defunto e pedindo-lhe socorro. O corajoso, se divertindo bastante com aquela situação foi mais além e ameaçou levantar-se. O medroso pegou o defunto, jogou nas costas e saiu correndo, gritando feito louco na tentativa de acordá-lo.
Outra anedota um pouco melhor do que esta é a de um paralítico que foi avisado em sonho que se visitasse um cemitério durante sete sextas-feiras, à meia-noite, seria curado. O problema era conseguir chegar ao cemitério sem a ajuda de alguém. O outro problema era conseguir alguém com a coragem de ir a um cemitério nos dias e horários marcados.
Depois de muito se lamentar com um amigo obteve dele a garantia de que seria levado até o cemitério.
Na primeira sexta-feira o vigia do cemitério se assustou muito com aquela cena: um cidadão carregando um outro nas costas. De repente coloca-o no chão, se ajoelham e começaram a orar. A oração fez o vigia respeitar o ato, mesmo sem entender nada. Na segunda sexta-feira o vigia achou que aquilo não estava certo, afinal de contas cemitério não é lugar de orações à meia-noite. E teve uma idéia: assustá-los num possível próxima visita.
E na terceira sexta-feira, quando o amigo colocou o aleijadinho no chão o vigia surgiu com uma capa preta muito desajeitada e segurando várias velas acesas. O amigo do aleijadinho nem lembrou que estava com alguém. Correu feito um louco. Já na metade do caminho se lembrou do amigo, mas não teve coragem de retornar sozinho. O único jeito foi ir até a casa dos parentes chamar alguém para ir ao cemitério com ele buscar o aleijadinho.
Bastante desesperado, chorando muito, ele tentava explicar a situação para o pai do aleijadinho que a toda hora tentava lhe interromper para acalmá-lo. Mas seu desespero era grande demais até que foi interrompido aos gritos:
- Calma...o aleijadinho chegou aqui bem antes de você!!!”


PARA MEDITAÇÃO
Desejo que você
Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la.
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência.
Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina,
Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas.
Seja um debatedor de idéias. Lute pelo que você ama.

Augusto Cury