O MEDO II

O medo e a coragem, ou o otimismo e o pessimismo, já colocaram muita gente em situações dramáticas e até cômicas, gerando as mais variadas anedotas. Meu saudoso pai gostava muito de contar uma sobre três amigos, um corajoso, outro medroso e um equilibrado que saíram para uma caçada. No meio da noite, em meio a muito morre exatamente o equilibrado.
O corajoso controlou a situação deitando-se ao lado do defunto para que o medroso deitasse do lado oposto. Assim esperariam pelo clarear do dia e tomar as providências cabíveis. Só que o medroso dormiu e o corajoso trocou de lado com o defunto. E quando percebeu que o medroso havia acordado começou a se mexer, ora um braço, ora uma perna. E o medroso entrou em pânico, sacudindo o defunto e pedindo-lhe socorro. O corajoso, se divertindo bastante com aquela situação foi mais além e ameaçou levantar-se. O medroso pegou o defunto, jogou nas costas e saiu correndo, gritando feito louco na tentativa de acordá-lo.
Outra anedota um pouco melhor do que esta é a de um paralítico que foi avisado em sonho que se visitasse um cemitério durante sete sextas-feiras, à meia-noite, seria curado. O problema era conseguir chegar ao cemitério sem a ajuda de alguém. O outro problema era conseguir alguém com a coragem de ir a um cemitério nos dias e horários marcados.
Depois de muito se lamentar com um amigo obteve dele a garantia de que seria levado até o cemitério.
Na primeira sexta-feira o vigia do cemitério se assustou muito com aquela cena: um cidadão carregando um outro nas costas. De repente coloca-o no chão, se ajoelham e começaram a orar. A oração fez o vigia respeitar o ato, mesmo sem entender nada. Na segunda sexta-feira o vigia achou que aquilo não estava certo, afinal de contas cemitério não é lugar de orações à meia-noite. E teve uma idéia: assustá-los num possível próxima visita.
E na terceira sexta-feira, quando o amigo colocou o aleijadinho no chão o vigia surgiu com uma capa preta muito desajeitada e segurando várias velas acesas. O amigo do aleijadinho nem lembrou que estava com alguém. Correu feito um louco. Já na metade do caminho se lembrou do amigo, mas não teve coragem de retornar sozinho. O único jeito foi ir até a casa dos parentes chamar alguém para ir ao cemitério com ele buscar o aleijadinho.
Bastante desesperado, chorando muito, ele tentava explicar a situação para o pai do aleijadinho que a toda hora tentava lhe interromper para acalmá-lo. Mas seu desespero era grande demais até que foi interrompido aos gritos:
- Calma...o aleijadinho chegou aqui bem antes de você!!!”